Muitas são as razões pelas quais se inicia uma análise. Um momento depressivo, um excesso de ansiedade, uma paralisia na vida onde não se consegue dar andamento a projetos pessoais… nem sempre está explícito para o sujeito que busca uma análise as razões que o levam ali. 
Na maioria das vezes, aliás, o que o leva a um tratamento é o surgimento de um sintoma. O sintoma é aquilo que incomoda, que faz sofrer e que atrapalha a vida de maneira significativa. O paciente, quando busca seu tratamento vai na direção de se curar, de se livrar de seu sintoma, afinal, quer recuperar sua potência de vida. 
Quando eu disse que nem sempre está explícito ao paciente as razões de seu tratamento é porque ele se volta inteiramente para seu sintoma, sem se dar conta de que, na realidade, seu sintoma é um sinal, é uma consequência de um processo de adoecimento mais complexo e mais amplo que vai exigir do paciente um trabalho, um trabalho de análise. Na análise, o sujeito pode se haver com seu sintoma, em um processo de decifração, cujo objetivo é levá-lo a encontrar modos de lidar com seu sintoma, extraindo deste um saber. 
Quanto a livrar-se de seu sintoma, faço valer aqui as palavras de Clarice Lispector que, mesmo sem ser uma psicanalista, soube tão bem metaforizar algo a respeito da existência humana: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.