Recentemente soltei essa frase em uma de minhas aulas, em uma graduação de psicologia, e meus alunos ficaram pasmos, para minha surpresa.
Há muito a psicanálise vem sendo estudada por alunos de psicologia como parte de sua grade curricular.
No entanto, essa junção é no mínimo complicada e vamos puxar alguns fios para refletir:
🔹A graduação em psicologia não forma psicanalistas, forma psicólogos;
🔹Desde Freud, criador da psicanálise, ela é independente das universidades e instituições educativas;
🔹Freud dispensou grandes esforços para garantir que a psicanálise não fosse absorvida por nenhuma disciplina acadêmica, garantindo sua existência independente como tal;
🔹A psicanálise, diferentemente da psicologia, nasce da observação e experiência clínica de seu inventor, constituindo então um dispositivo de tratamento psicoterápico (Freud foi pioneiro em propor uma prática psicoterápica);
🔹A psicologia tem seu início dentro das universidades, a partir de experimentos laboratoriais e pesquisas acadêmicas. Seu compromisso é com o avanço das pesquisas científicas. A clínica psicológica, ou seja, a aplicação da psicologia como forma de tratamento psicoterápico surgiu muito depois, inspirada inclusive nos avanços psicanalíticos de tratamento psicoterápico;
🔹Neste ponto podemos perceber a importância da psicanálise para a psicologia. Perceber,
portanto, porque dentro dos cursos de psicologia a teoria psicanalítica se faz presente;
🔹Já a formação do psicanalista é complexa e permanente, envolvendo sua análise pessoal, supervisões de seus casos clínicos, estudos teóricos, vinculação em escolas psicanalíticas;
🔹Desde Freud a formação de um psicanalista começa no divã, Lacan vai um pouco mais adiante e propõe que um psicanalista “pode” advir de sua própria análise pessoal, mas quanto a isso não há garantias prévias. O que rompe completamente com a lógica dos certificados das instituições acadêmicas que certificam por antecedência de que há ali um profissional habilitado.
🔹Neste sentido, a graduação em psicologia não é pré-requisito na formação de um psicanalista.
Então, para fechar esse post, mas não concluir: a psicanálise, desde Freud, luta por sua inteira independência, recusa qualquer tipo de subserviência institucional, não consente com a lógica das certificações e títulos, pois não há garantias ao “ser” do psicanalista, não deve ser mesclada com outras técnicas e outras práticas (como as religiosas, por exemplo).
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